Portagens podem deslocalizar empresa de transportes de Viseu para Paris

Outubro 31, 2012 | Economia

Dividida entre a emoção e a razão, a administração da JLS, em Fragosela, uma das maiores empresas de transportes rodoviários do país, que “nasceu e cresceu em Viseu”, admite a deslocalização da sua sede para a zona de Paris, onde tem em curso um investimento de 8 milhões de euros que deverá ficar concluído já no verão do próximo ano. Nelson Sousa, um dos administradores, reconhece que a introdução de portagens nas ex-SCUT que atravessam esta região, que passaram a representar mais 1,5 milhões de euros de encargos para a empresa, “poderá ser determinante” para uma decisão que está a ser “seriamente ponderada”.

“Ter sede em Viseu ou em Paris é, para a JLS, uma questão meramente formal, uma vez que o negócio da empresa pode ser gerido à distância. Mas, no contexto actual, quando 17 por cento do nosso volume de negócios já não tem origem nem destino em Portugal, há necessidade de acompanhar os fluxos de mercado e, desse modo, operar a partir do centro da Europa, onde a nossa actividade pode convergir para vários lados. Em Portugal só poderemos fazê-lo para um”, explica Nelson Sousa, para concluir que a mudança da sede da empresa para Paris “pode acontecer a qualquer momento”.

Nelson Sousa reconhece que a introdução de portagens nas ex-SCUT, a que se juntou recentemente o fim das isenções, está a penalizar fortemente uma empresa que dispõe de uma frota de 230 camiões e que passou, por via disso, a aumentar “em mais de 1,5 milhões de euros”, os seus encargos. Mas há mais. “Os empresários estrangeiros, que operam em Portugal com matrículas dos respectivos países, estão pouco preocupados com as portagens, sabendo de antemão que a notificação da dívida por parte das autoridades é uma tarefa muito difícil se não impossível. É uma concorrência desleal incentivada pelo próprio Estado”, atira Nelson Sousa.

A transferência da sede a JS de Viseu para Paris terá num primeiro impacto, segundo aquele administrador, encargos mais elevados para a empresa, atendendo à realidade económico-financeira de França. Mas, a prazo, essa diferença relativamente a Portugal será esbatida. “Pelo rumo que as coisas levam por aqui, com o IVA a 23% (em França é de 19,6%), o preço dos combustíveis, e a carga fiscal cada vez mais pesada, não duvido que dentro de pouco tempo vai valer muito mais a pena ter tomado a opção que neste momento está em cima da mesa”.

“Gostaríamos de manter a sede aqui. Mas, hoje, os negócios não são compatíveis com a emoção. A emoção diz-nos que foi aqui que nascemos e crescemos, mas a razão avisa-nos que devemos sair se nos quisermos manter vivos e de boa saúde”, concretiza o administrador.

Com 249 trabalhadores ao seu serviço, a JLS, criada em 1988, não está preocupada com a situação dos colaboradores. “Os que estão connosco queremos mantê-los. A questão é saber se os postos de trabalho serão aqui ou lá fora. De resto, a maioria está receptiva à mudança”, acrescenta Nelson Sousa.

A JLS registou em 2011 um volume de negócios de 22 milhões de euros, prevendo acabar o ano de 2013 com 23 milhões. O transporte internacional representa actualmente 97% da actividade da empresa e o nacional apenas 3%.

O distrito de Viseu possui algumas das mais importantes empresas de transporte rodoviário a internacional em todo o país. O fim das vias SCUT (Sem Custos para o Utilizador), mesmo com alguns benefícios para além dos 15% de desconto aplicado a todos os automobilistas (bónus de 10% às empresas acrescido de 25% no período nocturno), não tem sido suficiente para calar a indignação dos empresários. Os protestos que se têm feito sentir na região, promovidos pela Comissão de Utentes das A23, A24 e A25, têm sempre à cabeça colunas de camiões que dão força inusitada àqueles protestos.

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