Viseu e a região não se defendem com bairrismo bacoco de Ruas

Março 14, 2013 | Opinião

Na última sessão da Assembleia Municipal de Viseu, em 28 de Fevereiro,  Fernando Ruas defendeu que o Centro Hospitalar “Qualquer Coisa-Viseu” (que falta de respeito pelos tondelenses e por um  município vizinho, ainda por cima, por parte de um autarca que preside à ANMP -Associação Nacional dos Municípios Portugueses!) passasse a designar-se “Centro Hospitalar S. Teotónio”, conforme exposição enviada por si, em 2012,  ao Ministério da Saúde.

A frustração de Ruas por não se poder eternizar no poder, leva-o ao desvario de tomar ridículas atitudes de cacique, extremando um bairrismo bacoco que ao invés de defender Viseu, achincalha o bom nome do nosso concelho ao abrir uma guerra de tabuletas com os concelhos vizinhos. Ao preferir que o nome de Viseu desapareça da designação oficial do Centro Hospitalar Tondela-Viseu, propondo em alternativa, “Centro Hospitalar S. Teotónio”, Ruas não só prejudica a visibilidade nacional de Viseu como sede partilhada de um Centro Hospitalar, como desrespeita os tondelenses e os seus representantes autárquicos, os quais até podem muito legitima e republicanamente  preferir um nome mais laico para um centro hospitalar que inclui o seu antigo Hospital Cândido de Figueiredo.

Fernando Ruas também fez aprovar no executivo municipal uma deliberação que exige a alteração da designação da Comunidade Intermunicipal Dão-Lafões para “Comunidade Intermunicipal da Região de Viseu” e ainda a mudança da respectiva sede de Tondela para Viseu.

Parece que Ruas não gostou da hipótese, ventilada desde há muitos meses na comunicação social, de Carlos Marta se candidatar à Câmara de Viseu, agora que por força da Lei de Limitação de Mandatos já não se poderá candidatar à de Tondela, assim como Ruas não poderá candidatar-se à  Câmara Municipal de Viseu. Mas não se percebem estas cenas de ciúmes, uma vez que não me parece que Carlos Marta se prestasse a cair aqui de pára-quedas como candidato à autarquia de Viseu, e muito menos quando Fernando Ruas já anunciou por diversas vezes que quer regressar à cadeira do poder logo que acabe “o castigo” de quatro anos.

Compreende-se, assim, que Ruas faça questão em apoiar o seu fiel vice, Américo Nunes, para lhe aquecer o lugar. Quem mais se prestaria a isso? Há quem assegure que foi essa estratégia de Ruas que levou Almeida Henriques a admitir já ter estado disponível,  mas que agora nem pensar. O apego desmedido de Ruas ao poder levou-o a queimar o melhor candidato do PSD, ainda que Viseu mereça melhor do que qualquer um que tenha sido cúmplice da prepotência e da megalomania que prejudicaram um desenvolvimento sustentável do concelho, do ponto de vista económico, social e urbanístico.

Das duas uma: ou Ruas ignora que Lafões é uma das regiões mais características da Europa, como prova o projecto de desenvolvimento local  da União Europeia em que participou o professor do IPV, Alfredo Simões, o que, a ser assim, não abonaria a favor do presidente da ANMP, ou, se sabe, a sua proposta não passa de uma rasca provocação não só aos municípios de S. Pedro do Sul, Vouzela e Oliveira de Frades, como a todos os municípios da região do Dão,  o que ainda é mais grave e indesculpável vindo de quem devia ser o primeiro defensor da coesão e solidariedade entre todos os municípios portugueses.

A RESPOSTA DO BLOCO DE LAFÕES

Em comunicado de 3 de Março, os deputados municipais eleitos pelo Bloco de Esquerda em S. Pedro do Sul, Rui Costa e Alberto Claudino Figueiredo,  classificam a deliberação da Câmara de Viseu de “unilateral e à margem dos órgãos legítimos da Comunidade Intermunicipal da Região Dão-Lafões”, onde o Município de Viseu está representado, e onde deveria ter apresentado e discutido essa proposta, acusando ainda a “falta de solidariedade institucional” e o desrespeito pela posição dos restantes municípios que da CIMRDL”, já que a região Dão-Lafões integra realidades naturais, económicas, sociais e identitárias diversas”.

Os bloquistas rejeitam a perspectiva hegemónica da autarquia viseense que pretende legitimar o encerramento de serviços públicos (repartições de finanças, tribunais, etc.) nos municípios limítrofes, e  ironizam sobre a sua proposta:  “falta apenas a consagração do eucalipto como símbolo da nova Comunidade Intermunicipal da Região de Viseu”.

Triste estertor de um autarca que já confessou na Assembleia Municipal  não se importar que o seu concelho não tenha empregos, comprazendo-se em ter feito de Viseu um mero dormitório  para quem trabalha nos concelhos vizinhos.

Carlos Vieira e Castro

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