Sem imprensa livre não há democracia (local) e vice-versa

Agosto 15, 2013 | Opinião

Esta crónica é feita em cima da hora, fruto de indignação acumulada.  Os leitores conhecem-me. Escrevo para este jornal desde a edição  nº 18, de 9.06.1994, ou seja, há 19 anos, ininterruptamente. Reconheço a pachorra dos leitores que resistem a textos com mais de 4.000 caracteres, mas prefiro correr o risco de ser menos lido mas mais compreendido. Quem rema contra a corrente tem de fazer um esforço maior para atingir o seu objectivo. Quando alguém, de direita,  me diz: “não concordo com tudo o que escreve, mas é difícil refutar a forma como argumenta e vejo-me forçado, muitas vezes a dar-lhe razão”, sinto que valeu apenas o esforço. Nunca escondi que era militante do Bloco de Esquerda e declaro desde já que vou ser de novo candidato à Assembleia Municipal de Viseu. Talvez não fosse preciso dizê-lo aqui se tivéssemos imprensa diária livre, uma vez que a minha candidatura já foi apresentada à comunicação social no dia 26 de Julho.

Encontrei no Via Rápida um espaço de liberdade. Nunca sofri censuras nem pressões de qualquer tipo por parte do seu director. Entretanto, surgiram outros projectos mais suportados pelo poder local ou por partidos da oposição com ligações ao poder económico, e o Via Rápida,  não ajudado também pela sua periodicidade quinzenal, deixou de ser considerado um jornal de referência entre a “elite” intelectual de Viseu.

Acabo de comprar o Jornal do Centro e, mais uma vez, a indignação estala-me dentro do peito. A primeira página surge toda ocupada com as fotos dos candidatos à União de Freguesias de Viseu, pelo PSD, PS e CDS. No interior, atribuem-se 4 estrelas a estes candidatos por se terem candidatado. Mais lá para o interior, surge uma pequena notícia sobre o candidato do Bloco de Esquerda à União de Freguesias de Viseu. Ora, uma eleição não é uma corrida de fórmula 1, com pool positions. Todos os candidatos deveriam ser iguais à partida e assim ser considerados pelos órgãos de imprensa. O Bloco de Esquerda é um partido com representação na Assembleia Municipal de Viseu , onde o CDS, por sinal, só tem mais um deputado. Mas, a discriminação do BE não é de agora. Temos desde há muito tempo vindo a reclamar junto do Diário de Viseu e do Jornal do Centro.

Como disse, no passado dia 26 de Julho, uma sexta-feira, o BE apresentou à comunicação social os seus cabeças de lista á Assembleia Municipal de Viseu e à União de Freguesias de Viseu.  Passado quase meia hora da hora marcada só tinha aparecido um jornalista, da Rádio Vouzela; depois chegou atrasado um jornalista do Jornal do Centro. Para nossa surpresa no número seguinte deste semanário não surgiu qualquer notícia sobre esta apresentação de candidatos. Agora surge absolutamente abalroada pelo destaque dado às candidaturas dos três maiores partidos.

O Diário de Viseu conseguiu mais uma vez ignorar completamente o BE. Nem enviou nenhum jornalista ao lançamento da candidatura, nem a divulgou baseado na nota de imprensa que lhe enviámos. Nada que se estranhe num jornal que avisa os seus jornalistas que ali não entra nem PCP nem Bloco de Esquerda.

No entanto, Luis Mouga Lopes não é um candidato qualquer.  É um cidadão interventivo. Já escrevia antes de mim para o Via Rápida. Para compensar o blackout da restante imprensa, passo a transcrever o seu currículo:

Luís Mouga Lopes nasceu em 1969, na Freguesia de Santa Maria de Viseu.

É filho de António Carlos Lopes Ferreira e de Fernanda Maria Mouga Lopes.

É casado. Tem uma filha.

É Licenciado em Gestão pelo Instituto Superior de Gestão, possui o grau de

Business Bachelor Administration da European University Portugal e frequentou

o Mestrado de Finanças Empresariais do Instituto Piaget de Viseu.

Iniciou a sua actividade profissional em 1993 no Sector Automóvel, onde

trabalhou na área Comercial e Administrativa até 2005; altura em que iniciou a

actividade de Gestor (inscrito na Ordem dos Economistas, na Ordem dos

Técnicos Oficiais de Contas e na Associação Profissional de Formadores);

profissão que mantem até à data. Paralelamente, entre 1998 e 2003, exerceu a

actividade de docência na Escola Profissional Mariana Seixas (Viseu e Castro

Daire).

É membro da ONG AidGlobal e da Associação Cívica Transparência e

Integridade (TIAC).

Como Dirigente Associativo, fez parte dos órgãos sociais do Cine Clube de

Viseu, entre outros. À data, é Presidente da Assembleia-geral do Clube

Automóvel de Viseu, Membro da Direcção Nacional da ATTAC Portugal –

Movimento Internacional para o controlo democrático dos mercados financeiros e suas instituições, e Dirigente Distrital (Tesoureiro)  do Bloco de Esquerda.

Na edição de 20.10.2004 do  jornal O Zurara (jornal que confrontou o caciquismo do PSD na Câmara Municipal de Mangualde), o seu director Paulo Neto (actual director do Jornal do Centro) escrevia indignado: “(…) ou a imprensa regional se torna o paradigma da anuente subserviência “lambuzante do Poder, ou se escassa no panegírico e contumaz na verdade, cedo se vê antagonizada pelo caciquismo regente & vigente.” Pois é, caro Paulo Neto, também eu não encontro melhor maneira de acabar este desabafo do que deitar mão ao poema de Torga que ilustrava o seu editorial:

AR LIVRE

Ar livre, que não respiro!/ ou são pela asfixia?/ Miséria de cobardia/ que não arromba a janela/ Da sala onde a fantasia/ Estiola e fica amarela!

Ar livre, digo-vos eu!

(…)” Ar livre, sem restrições!/ Ou há pulmões,/ Ou não há!/ Fechem as outras riquezas,/ Mas tenham fartas as mesas/ Do ar que a vida nos dá!”

Miguel Torga, Cântico do Homem,  1950

 

Carlos Vieira e Castr0

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