E se o Cristo voltasse à terra para expulsar os vendilhões do nosso tempo?…

Dezembro 28, 2012 | Opinião

Daqui a poucos dias estaremos, cristãos e uma grande parte dos ateus e agnósticos do mundo ocidental, a festejar o Natal, enquanto tradição de reencontro familiar, a menos que o fim do mundo ocorra a 21 de Dezembro, como alguns profetas do Apocalipse não se cansam de anunciar, apesar de arqueólogos,  epigrafistas e até a NASA esclarecerem que as estelas/calendários dos maias não se referem ao 21.12.2012 como o fim do mundo, mas tão só o fim de uma era, de um “ciclo de criação”, de 5.125  anos. Como sabem, o solstício de Inverno ocorre precisamente a 21 de Dezembro e marca o fim de um ciclo (do dia mais longo do ano, no solstício de Verão, até à noite mais longa), festejado desde os tempos mais remotos. Foi precisamente para colar a data do nascimento de Cristo às festas pagãs dedicadas ao solstício de Inverno que, a partir do ano 354,  o Natal deixou de ser comemorado, no Ocidente, de 6 para 7 de Janeiro, como ainda hoje acontece na Igreja Ortodoxa.

Confesso, no entanto, que acredito em profecias. Pelo menos nas de Nuno Morais Sarmento, ex-ministro da Presidência no Governo de Barroso, que prevê “um trambolhão” do PSD nas autárquicas, depois da “pancada que os portugueses levarão em Fevereiro ou Março, por força do Orçamento de Estado”. Ou na profecia de Freitas do Amaral  que prevê a queda do governo entre Abril e Setembro de 2013.

Se Cristo descesse à Terra certamente que expulsaria os novos  vendilhões do templo.  Correria a pontapé os especuladores agiotas que condenam biliões de seres humanos à pobreza, e os seus enviados especiais a Portugal, disfarçados de Reis Magos (por coincidência, na Troika até o representante do FMI é negro, como Baltazar), e  expulsaria do governo de Portugal os vendilhões de empresas estratégicas lucrativas e monopólios naturais como a GALP, PT, EDP, seguindo-se na calha a ANA, a TAP (que em 2010 e 2011 foi a maior exportadora nacional e que só vai render ao Estado, depois de assumir dívida de 1,2 mil milhões €, uns míseros 20 milhões de €), a RTP, os CTT e as Águas de Portugal. Privatizações que aumentam o défice e a dívida pública futura, que Passos Coelho já admite que durará 20 ou 30 anos a pagar. O jornal espanhol “EL Pais” anunciava que “Governo põe Portugal à venda”. Como não acredito em milagres, só posso ter fé que seja o povo português a expulsar do governo os vendilhões da nossas soberania.

Mas não duvido que se Cristo descesse à nossa terra, proibiria o CDS de se intitular democrata-cristão, invocando o seu santo nome em vão, para aprovar leis e orçamentos que condenam à fome e à miséria mais de dois milhões de portugueses.

Acredito ainda que a radicalidade de Cristo se manifestaria com todo o vigor  no Vaticano, obrigando o Papa a escrever cem vezes “A discriminação dos homossexuais é uma violação dos Direitos Humanos” (tal como é considerado pela Amnistia Internacional desde 1991), castigando assim Bento XVI por ter tido o desplante de ler numa mensagem para o Dia Mundial da Paz que “o casamento homossexual é uma ferida grave infligida à Justiça e á Paz”.

A história dos papas é que é uma ferida grave na Igreja Católica. Basta ler livros como “Os Papas e o Sexo” de Eric Frattini, ou “A História Negra dos Papas – Perversões, Assassínios e Corrupção”,  de Brenda Ralph Lewis.  Luxo, ostentação, orgias, amantes, filhos a rodos, violação de crianças, jovens e mulheres, incluindo freiras , incestos, sodomização de animais, criação de bordeis, pedofilia, assassinatos (como o de João Paulo I, ao fim de 33 dias, por querer investigar a corrupção no Banco do Vaticano, dirigido pelo Cardeal Marcinkus, com ligações à Mafia), eis o curriculum vitae de uma longa lista de papas, alguns banidos da história oficial da Igreja Católica, outros, porém, que chegaram a ser canonizados.

Sucedem-se os escândalos de abusos sexuais a menores por parte de padres católicos em países como EUA, Canadá, Reino Unido, Austrália, Brasil, Alemanha, Espanha, Bélgica, França, Irlanda, Holanda e outros. Só em Los Angeles a Igreja Católica pagou o equivalente a 480 milhões de euros de indemnizações às vítimas e na Alemanha pagou 5 mil euros a cada  vítima de abusos na rede de orfanatos católicos, na década de 50.  Em Portugal, depois do caso recente no Seminário do Fundão, a Igreja Católica desafiou Catalina Pestana a denunciar os outros casos que ela disse conhecer. Acontece que a sua associação Rede de Cuidadores já denunciou à Igreja e ao Ministério Público casos como os de abusos sexuais de doentes mentais por parte de membros da Ordem Hospitaleira de S. João de Deus.

Se Cristo descesse à Terra, depois de correr com os vendilhões do nosso tempo, talvez decidisse refundar o próprio templo.

 

O MENINO JESUS DE FERNANDO PESSOA

Num meio-dia de fim de primavera

Tive um sonho como uma fotografia.

Vi Jesus Cristo descer á terra.

Veio pela encosta de um monte

Tornado outra vez menino,

A correr e a rolar-se pela erva

E a arrancar flores para as deitar fora

E a rir de modo a ouvir-se de longe.

Tinha fugido do céu.

(…)

Nem sequer o deixavam ter pai e mãe

Como as outras crianças.

O seu pai era duas pessoas –

Um velho chamado José, que era carpinteiro,

E que não era pai dele;

E o outro pai era uma pomba estúpida,

A única pomba feia do mundo

Porque não era do mundo nem era pomba

E  a sua mãe não tinha amado antes de o ter.

(…)

Diz-me muito mal de Deus.

Diz que ele é um velho estúpido e doente

Sempre a escarrar no chão

E a dizer indecências.

A Virgem Maria leva as tardes da eternidade a fazer meia.

E o Espírito Santo coça-se com o bico

E empoleira-se nas cadeiras e suja-as.

Tudo no céu é estúpido como a Igreja Católica.

Diz que Deus não percebe nada

Das coisas que criou –

“Se é que as criou, do que duvido” –

(…)

E depois, cansado de dizer mal de Deus,

O Menino Jesus adormece nos meus braços

E eu levo-o ao colo para casa.

(…)

Alberto Caeiro

 

 

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