A Sé Catedral de Viseu é, a par com a Cava de Viriato e o Museu Grão Vasco (antigo Paço dos Três Escalões), o monumento nacional mais importante da nossa cidade. Iniciada em finais do século XIII, no reinado de D. Dinis, sofreu derrocadas de uma torre e do frontispício no séculos XVII e no seguinte beneficiou de reformas (claustro alto, elevação dos arcos das capelas colaterais apensos à capela-mor, um novo retábulo-mor e retábulos colaterais). Ao bispo humanista e mecenas das artes, D. Miguel da Silva, se deve o claustro renascentista. O exterior românico, fortificado (inicialmente encostado ao castelo) contrasta com o elegante interior gótico.
Os viseenses foram surpreendidos há poucos dias com o início da construção de uma cobertura da abóbada, em tijolo e cimento, visível das traseiras da Sé, no Largo de São Teotónio, um dos espaços mais encantadores de Viseu, graças ao aspecto de fortificação da Sé, com o contraforte escalonado na parede do absidíolo do lado norte, e à varanda e janelas que lhe emprestam um ar de torre de menagem.
Em 1996 a Sé beneficiou de obras de preservação (conservação, restauro e manutenção) a cargo da Direcção Geral de Edifícios e Monumentos Nacionais, que passaram pela substituição de madeiras atacadas por fungos de podridão húmida, no forro do tecto, devido a repasses do tubo de drenagem de águas pluviais. A manutenção era um dos pressupostos da proposta de intervenção. Estranha-se, assim, que estejam a ser utilizadas técnicas de construção não tradicionais, com aplicação de tijolo e cimento. A volumetria da cobertura existente, a avaliar pela fotografia a preto e branco tirada antes da abertura da Avenida Capitão Silva Pereira (ver foto de duas páginas na Revista Monumentos nº 13, da DGEMN) não era tão agressiva visualmente (talvez não se visse mesmo do Largo São Teotónio), como a que agora começa a espreitar das ameias. Sabe-se que nos anos trinta do século passado foram substituídas as estruturas de cobertura em madeira por betão armado, e nos anos 70, 8º e 90, as últimas estruturas de madeira foram substituídas por pré-esforçado, considerado na altura incombustível o que talvez tenha comprometido, agora, melhores soluções.
No entanto, apesar do aval da Direcção Regional de Cultura do Centro, que justifica a intervenção com a urgência em proteger a abóbada de granito das infiltrações de água, não podemos de deixar de ficar chocados com a construção que espreita do alto das ameias. Ao comum dos viseenses, muitas vezes confrontados com exigências da SRU, consideradas fundamentalistas, em obras de reabilitação no centro histórico, afigura-se como um mau exemplo. Se em vez de uma cobertura de duas águas fosse de três águas com alçado em telha, talvez não chocasse tanto visualmente. Talvez depois da obra concluída, surja mais bem integrada no monumento.
Confiemos nos técnicos, mas fiquemos todos atentos.
Carlos Vieira e Castro